terça-feira, 19 de julho de 2016

ANÁLISE EM EFÉSIOS 4.11-13



VERSÍCULO 11-13 DO CAPÍTULO 4: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do seu serviço, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.”

            O apóstolo  Paulo, que nos capítulos iniciais comenta a graça divina e no princípio do capítulo 4 relata o meio como Cristo governa sua Igreja, a união entre judeus e cristãos, parte da unidade para uma diversidade coordenada, visto que Deus trabalha com homens, então estabelece ofícios para os homens, mas não apenas isso, quando Paulo fala de dons do Espírito (mas a cada um foi dada a graça segunda a medida do dom de Cristo v. 10)  ele está se referindo aos ofícios. Pois como fala Calvino: “Deus não  veste homens com máscara ao designá-los apóstolos ou pastores, e, sim, os supre com dons”. E diz ainda que devemos a Cristo o fato de termos ministros do evangelho. Então não devemos conceber que concedeu é equivalente a designou, logo estes de quem Paulo fala são presentes de Deus para a Igreja.

        A Análise destes ofícios deve ser feita separadamente para uma melhor compreensão:

           Apóstolos – No uso estrito do termo, aqueles que haviam estado com Jesus e testemunhou sua ressurreição (ou recebido uma revelação especial do Jesus ressurreto) e que haviam sido comissionados por Jesus para serem fundadores de Igrejas (At 1.21-22; 1Co 15.1-9). A palavra também foi empregada em um sentido mais amplo, para pessoas enviadas como representantes de igrejas particulares (2Co 8.23; Fp 2.25), a autoridade dos apóstolos comissionada por Cristo foi única e conservada hoje no Novo Testamento, conforme afirma Stott, mas continua ele, é perfeitamente possível argumentar que há pessoas com ministérios apostólicos de um tipo diferente, inclusive a jurisdição episcopal, a obra missionária pioneira, a implantação de igrejas, a liderança itinerante, etc. Creio que Paulo aqui se refere aos apóstolos tais como ele, onde suas contribuições permanecem até hoje para a edificação do corpo.

            Profetas – Também no sentido mais estrito da palavra, o profeta era uma pessoa que esteve no conselho do Senhor, que ouvia a sua palavra e transmitia a mesma com fidelidade, era o porta-voz de Deus, como meio de revelação direta. E nestes termos não há profetas hoje com inspiração e autoridade semelhantes ao contidos no cânon. Os profetas contribuíram para a igreja em uma época que não existia o cânon sagrado, portanto, era um ofício de vital importância. Como exemplo temos Ágapo (At 11.28), Judas e Silas (At 15.32). A ligação que temos entre apóstolos e profetas, é, que, são associados por Paulo como fundamento sobre o qual a igreja está alicerçada (Ef 2.20), ora o fundamento foi lançado e acabado há muitos séculos, e hoje, concordando com Stott,  não podemos mexer com ele. Costuma-se dizer que nos tempos atuais Deus continua levantando profetas, mas ressalto que o ministério profético deve ser o de edificação, exortação e consolação, e nunca encarado como nova revelação.

          Evangelistas – Apenas três vezes encontramos esta palavra no Novo Testamento (At 21.8; 2Tm 4.5; Ef 4.11), sabemos que a evangelização compete a todos os cristãos, mas é inegável que alguns possuam o “dom de evangelista”, referindo-se ao dom da pregação evangelística, ou de trazer o evangelho de forma especialmente clara e relevante para os descrentes, ou aqueles que se empenham especialmente para esta obra. Vemos Timóteo como exemplo e a casa de Felipe.

          Pastores e Mestres – Observemos que aqui, a citação é feita em conjunto, designando o mesmo ministério. Pastores que cuidam de ovelhas devem alimentá-las e como farão isso sem ensiná-las? Um pré-requisito é que o bispo (entende-se pastor) seja apto para ensinar (1Tm 3.2). São pessoas dadas pelo Supremo Pastor para cuidar do seu rebanho precioso. Note que todos esses dons são ligados ao ensino. Calvino defende que os deveres de pastores são diferentes do de doutores. A suma é que não há uma linha divisória nítida entre os dois. Os pastores devem prover o rebanho de alimento espiritual e protegê-lo dos perigos espirituais, e é evidente que alguns possuem o dom de ensino e se destacam dentro da Igreja.

No verso 12 fica claro o propósito dos dons, levar os santos a tornarem-se aptos para o desempenho de suas funções no corpo de Cristo, isto é, em todo o serviço da igreja. Sendo assim, é para a edificação do corpo de Cristo, a igreja cresce à medida que seus membros usam de seus dons individuais para o benefício da comunidade.

No verso 13 fica entendido que, o alvo da Igreja é alcançar a perfeição no sentido da maturidade na unidade. E o pleno conhecimento é a comunhão com o Filho de Deus. Assim sendo, a unidade é assegurada, mesmo com toda a diferença entre as pessoas, pela mesma esperança e Senhor. Não conhecendo a Cristo de forma superficial e sim de forma profunda, até alcançarmos a maturidade adequada.

          Conclusão

As três primeiras categorias de dons são consideradas como pertencentes à Igreja universal, enquanto Pastores e Mestres descreva o ministério local. Tanto os evangelistas como os pastores e mestres permanecem até hoje, mas a autoridade que os apóstolos e profetas do Novo Testamento possuíam não mais existe. Todos os dons são dados por Cristo, segundo o seu governo, de forma a cooperar com a edificação do seu corpo. Ele quer que o cristão seja preenchido em tudo o que Ele possa comunicar.


segunda-feira, 2 de maio de 2016

DIFERENÇAS NO SIGNIFICADO DOS TEXTOS BÍBLICOS (TEXTOS DIFERENTES POR CAUSA DOS TEXTOS HEBRAICOS E GREGOS)



            Os manuscritos originais, isto é, os que foram escritos à mão, por Moisés, João, Lucas, etc., não existem mais. Mas antes que fossem entregues, foram copiados com muito cuidado. Depois, no passar dos anos, estas cópias foram novamente copiadas, e assim por diante. Mesmo tendo desaparecido os manuscritos originais, Deus tem preservado a sua Palavra de maneira especial até aos nossos dias.
            Os manuscritos originais da maior parte do Antigo Testamento ou Velho Testamento (A.T. ou V.T. ou ainda AT ou VT) foram escritos em hebraico e os do Novo Testamento (N.T. ou NT) em grego[1]. Por não entendermos essas línguas, faz-se necessário existir traduções para o português.
            Cerca de 300 anos atrás, João Ferreira de Almeida traduziu a Bíblia para o Português. Antes de falecer, ele já tinha traduzido o Novo Testamento inteiro e quase todo o Antigo Testamento.  
            Mesmo que os manuscritos hebraicos e gregos tenham sido copiados com muito cuidado, as cópias que existem hoje mostram certas diferenças entre si. Até ao tempo de João Ferreira de Almeida (JFA), era conhecido certo número de cópias dos manuscritos gregos. Também já havia traduções em várias outras línguas. Algumas traduções eram bem antigas, como a tradução antiga chamada Vulgata, enquanto outras eram mais recentes.
            Em 1516 um holandês, Erasmo, de Rotterdam[2], publicou um Texto grego do Novo Testamento. Ele tinha estudado os manuscritos gregos que eram conhecidos no seu tempo, juntamente com os escritos dos líderes da Igreja Cristã dos primeiros séculos depois de Cristo. Ele juntou todo este material, procurando descobrir como era o original grego do NT. Quando encontravam diferenças entre os manuscritos, ele escolhia a palavra que achava mais certa. Depois de estudar as diferenças, ele elaborou um Texto[3] do grego que ele achava o mais certo. O Texto grego de Erasmo foi revisado várias vezes nos anos posteriores. A revisão que foi publicada em 1560 tornou-se muito importante na decisão de que Texto seria aceitado pela Igreja, isto é, o “Texto Recebido” (do latim, Textus Receptus). A tradução do Novo Testamento de JFA foi baseada no Texto Recebido, mesmo que ele não tenha usado manuscritos gregos no começo de seu trabalho, e sim, algumas das traduções do Texto Recebido que já existiam em outras línguas que ele conhecia[4].
            Durante os últimos 300 anos, muitos outros manuscritos foram encontrados. Para o NT existem hoje mais ou menos 5000 manuscritos gregos. Alguns destes contêm apenas poucos versículos. Um deles consiste de apenas cinco versículos de João 18, copiados uns 50 anos depois de João ter escrito o seu Evangelho. Outro manuscrito antigo, um pouco maior, é uma cópia que data mais ou menos do ano 200 depois de Cristo. Também entre os manuscritos há uns 50 que incluem todos os 27 livros do NT.
            É claro que queremos saber quais eram as palavras exatas do NT original. E por isso há pessoas que dedicam muito tempo ao estudo dos manuscritos para decidir qual é o Texto mais exato. Como é de se esperar, alguns decidem de uma maneira e outros, de outra.
            Os que confiam mais nos manuscritos já conhecidos na época de JFA seguem o Texto Recebido.
            Outros que confiam mais nos manuscritos achados em tempos mais recentes, seguem um dos chamados “Textos Críticos”. Eles acham que na realidade são estes os manuscritos mais antigos e não aqueles em que se baseava o Texto Recebido. Por outro lado, existem algumas diferenças entre vários Textos Críticos, mas, em geral, são muito poucas[5].
            Daremos, a seguir, os Textos em que se basearam as diferentes versões:

TEXTO RECEBIDO
Trinitariana
TEXTO RECEBIDO
(Modificado)
Corrigida
TEXTOS CRÍTICOS
Atualizada
VRe
Jerusalém
Vozes
NVI
BLH
Viva
Phillips

            O Texto Recebido foi usado pelos tradutores do “Novo Testamento Segundo a Sociedade Bíblica Trinitariana”.
            Uma outra versão que segue o Texto Recebido, mas em forma modificada, é a COR. Quando João Ferreira de Almeida fez a sua tradução; ele se baseou no Texto Recebido. Mas, no passar dos anos, sua tradução foi revisada várias vezes, tendo os revisores usado cada vez mais os Textos Críticos. Assim, existem ligeiras diferenças de Texto entre a TRINITARIANA e a COR.
            É bom se notar que é apenas em relação ao Texto que existe alguma diferença entre estas duas versões. Por isso, não estudaremos a versão TRINITARIANA aqui.
            As outras oito versões incluídas neste estudo seguem um dos Textos Críticos.
            Sendo que os estudiosos nem sempre concordam sobre qual é o melhor Texto, nós devemos reconhecer:
            1º Que as diferenças entre os Textos não são de grande importância;
            2º Que devemos aproveitar as vantagens que as várias versões nos oferecem. As várias versões podem ser uma benção para nós se soubermos aproveitar as suas diferenças para melhor entendermos a Palavra de Deus.
            Alguns dos Textos Críticos não trazem algumas palavras, frases ou até mesmo versículos que encontramos na versão COR. Daí surgiu a pergunta: “Como podemos mostrar estas diferenças?” Entre as soluções temos três principais: usar os sinais de colchetes (“[ ]”), usar notas de rodapé, ou simplesmente deixar de fora certas partes.
            Então, quando encontramos colchetes (“[ ]”), sabemos que os tradutores estão em dúvida se realmente aquelas palavras fazem mesmo parte da Palavra de Deus. Na ATU, na página anterior ao início do Novo Testamento, existe uma explicação do uso dos colchetes. Na VRe e na BLH a explicação dos colchetes fica no rodapé das páginas que os contêm.
            A ATU tem muito mais palavras entre colchetes do que a BLH. Na BLH as palavras e os versículos sobre as quais existem dúvidas geralmente ficam no rodapé ou nem aparecem.

          Fonte: Luz Sobre as Versões da Bíblia; Elizabeth Muriel Ekdahl (Material Extraído da Edição Experimental) Publicação do Instituto Lingüístico (SIL); Brasil, DF. 1988.





[1] Algumas pequenas partes do Antigo Testamento foram escritas em aramaico.
[2] Porto dos Países Baixos (Holanda meridional), num braço do delta comum ao Reno e ao Mosa; 568.200 hab. atualmente.

[3] Note que costumamos usar a palavra “texto” para destacarmos um trecho das Escrituras em português como na seguinte frase: “Neste texto da Bíblia vemos o grande amor de Deus”. Mas, não é com este significado que estamos usando esta palavra aqui. A fim de destacar que ele está falando da Palavra de Deus na língua original estamos usando-a com letra maiúscula, como pode ser visto adiante: “Texto”. 

[4] Que seja notado bem como está sendo usada a palavra “Texto”. Refere-se à Palavra de Deus na língua original, isto é, em hebraico e aramaico para o AT e em grego para o NT. É o resultado dos estudos dos manuscritos nas línguas originais. E é isto que serve como base para as versões em português. 
[5] Note bem o seguinte: As pessoas que apóiam um Texto ou outro são igualmente estudiosas e amantes da Palavra de Deus. Não é que um grupo seja mais temente a Deus ou mais estudioso que o outro. A maioria das diferenças é mínima, como veremos nos exemplos que estarão por vir. Nenhuma das diferenças muda às doutrinas básicas das Escrituras. As diferenças em nossas Bíblias, por causa dos Textos, são de dois tipos: (1º) Um Texto, isto é, ou o Texto Recebido ou um dos Textos Críticos, tem palavras que outro não tem, como no caso de “até à Ásia” em Atos 20.4. (2º) As palavras são diferentes, isto é, uma ou mais palavras aparecem em um dos Textos e outra palavra (ou palavras) aparece(m) um outro, como no caso de “me” e “te” em Romanos 8.2.